RESPONSABILIDADE – 134/365

Interessante falarmos em responsabilidade, pois apesar de ser uma palavra usada por muitos para chamar a atenção de uma pessoa, às vezes é pouco usado em frases como: “Foi minha responsabilidade” ou “eu assumo a responsabilidade pelo que aconteceu”. Eu muitas vezes digo que não adianta reclamar do vento se foi você quem deixou a janela aberta e se me segue com alguma frequência, com certeza já me ouviu dizer esta frase.

Na dica terapêutica de hoje quero mergulhar nesta reflexão para juntos percebermos que muitas vezes temos o hábito de colocar a responsabilidade em tudo, menos assumirmos e tomarmos consciência que se o fizermos com mais frequência podemos evitar muitas coisas e termos uma vida melhor.

A minha cliente atrasou 30 minutos e ao chegar quase sem fôlego e “atrasada”, me pede desculpas e diz que atrasou devido ao trânsito. Não satisfeita com isso, complementa que foi difícil estacionar e só depois de colocar a responsabilidade do seu atraso em dois factores que poderiam ter sido resolvido se (ela) tivesse saído mais cedo de casa, é que me dá um bom dia!
Infelizmente a sua sessão de 60 minutos se reduz a 30, pois se eu fizer os mesmos 60 minutos, as 7 pessoas a seguir terão que serem atrasadas e o que eu diria? “Desculpa, a minha primeira cliente do dia atrasou 30 minutos”, jogando a responsabilidade inteira para ela?

Talvez eu esteja aqui dizendo que a maioria das pessoas encontram no externo uma justificativa para não abraçarem a sua responsabilidade e talvez seja mesmo isso que quero dizer. Esta cliente sabe onde mora, sabe como é o trânsito, conhece a rua da minha clínica e sair em cima da hora foi uma decisão dela. Sabendo que a minha agenda é sempre cheia, aí é que deveria ter mesmo prestado atenção, mas não o fez e percebeu que era mais fácil culpar as circunstâncias, ao invés de assumir a responsabilidade.

Acredite que é mesmo muito interessante quando olhamos para a responsabilidade com um pouco mais de atenção, pois se eu perceber que este mês não consigo pagar todas as minhas contas e reclamar que não consigo porque os preços estão elevados e culpar outros fatores, eu simplesmente passo por cima da situação, ignorando o real fator que me fez atrasar as minhas contas. Agora se eu analisar um pouco mais posso perceber que gastei um pouco a mais ou que assumi compromissos sem ter certeza do meu rendimento naquele mês e isso faz sim uma brutal diferença, pois uma vez ganhando consciência posso pensar antes de cometer outro destes erros.

Parece que não, mas responsabilizar outras pessoas tira de nós um fardo e naquele momento podemos até nos sentir mais leves, ok! Mas a minha observação é, e depois? Se eu consigo (responsabilizar) com facilidade os governantes, a moeda, a crise, o trânsito e por aí vai, isso me dá o direito de continuar vivendo com o piloto automático ligado e cometendo erros e passando por apuros, correto? Pois a responsabilidade não é minha mesmo.

Já parou para pensar que se for responsável por 100% das suas atitudes, tudo, e eu digo TUDO, ao seu redor pode tomar uma consciência e ser diferente? Passamos muita parte do nosso tempo justificando coisas e situações, enquanto deveríamos é estar altamente focados e atentos vivendo a vida no seu melhor, fazendo acontecer e construindo momentos felizes, sem culpar outras pessoas pelas nossas escolhas e decisões.

Eu fugi inúmeras vezes das minhas responsabilidades! Talvez centenas de vezes e responsabilizei o tempo, o sono, o sistema, a sociedade, os governantes, talvez até outras vidas ou Deus. A questão é que assumindo toda a responsabilidade, eu simplesmente estou atento à minha vida e actos que antes seriam automáticos, se tornam conscientes. Ainda hoje tenho actos automáticos, porém a cada “consequência” me sinto mais e mais preparado para a próxima etapa e começo a perceber que antes de fazer, a minha mente está alerta para que eu faça com tranquilidade.

Há pouco tempo estava eu em Madrid numa reunião no luxuoso Wellington Madrid com mais 4 pessoas na mesa. Uma delas falava sobre a economia do país e a briga entre os governantes e eu não entendo nada de politica, mas acompanhava bem a linha de raciocínio. Falamos do Brasil e de Portugal e ao terminar esta mesma pessoa vira e pega todos os lápis que ali estavam, coloca na bolsa e eu espantado pergunto o que ele estava fazendo? E a sua reposta foi, “Olhe à sua volta…é um hotel 5 estrelas, eles nem sentirão falta destes lápis e isso me ajudará imenso!”

Pausa para respirarmos!

Primeiro estávamos há minutos atrás falando sobre corrupção, sobre como os políticos governam e (tiram) vantagem em cima da liberdade que lhes é dada e como fogem de suas responsabilidades e em seguida ele resolve (roubar) os lápis do hotel? E a sua justificativa é que trata-se de um hotel 5 estrelas? Estamos brincando? Depois ele é um empresário bem sucedido e não precisa levar lápis do hotel!

Poderia ter levado 1 lápis como eu fiz, já que o hotel nos disponibilizou lápis e papéis, mas pegar todos e colocar na sua pasta, foi mesmo uma sensação estranha e eu questionando aquilo foi motivo de todos rirem e uma outra pessoa disse em bom tom: “Relaxaaaaa, aqui é a Espanha!”

Aquela frase me remeteu imediatamente as mesmas pessoas que diziam: “Isso é o Brasil” e por aí vai…. Será que devemos mesmo aceitar estas situações? Responsabilizamos o político que roupa milhões e roubamos migalhas e nos sentimos confortáveis? Exigimos fidelidade de quem amamos e não somos fiéis? Ensinamos os nossos filhos a não mentir e depois mentimos para eles? Falamos de paz mundial e não cumprimentamos o porteiro do nosso prédio? Responsabilidade para quem? Para cobrarmos do outro, enquanto fugimos dela em tempo integral?

Enfim, chato ou não esta dica tem como objetivo somar no seu crescimento como ser humano, pois não consigo enxergar como crescer se estamos mergulhados em uma série de situações onde responsabilizamos na maior parte do tempo tudo o que está ao nosso redor e nos eximimos, talvez por acreditarmos que responsabilizar outras pessoas ou situações facilite trafegarmos por aí de cabeça erguida, hora pegando lápis outras fechando os olhos para aquilo que não nos interessa.

Desejo que seja responsável pelos seus actos, tanto quando eu tenho que ser pelo menos.