Nº56| Para Refletir | Eric Pereira
Você é aquele tipo de pessoa que mal espera uma pessoa terminar sua linha de raciocínio que a interrompe dizendo “eu sei que o vai dizer” ou “ok ok, já entendi?” Tem a “mania” de achar que já sabe o final? O que vem a seguir e por isso permite levar os seus pensamentos para outro lugar antes de terminar o filme, o livro, a conversa?
Não sei se isso se deve ao tal “senso de urgência” que estamos vivendo ou se este é um hábito que cada vez mais vem tomando conta das pessoas e elas vão ouvindo pela metade e penso mesmo que não tem nada de saudável em ouvir pela metade, pois vamos ao logo do tempo criando também ações pela metade e claro que teremos resultados incompletos e é provável que vamos (ou já estamos) nos habituando a tudo isso.
Me inspirei para escrever este em uma conversa que tive hoje pela manhã com um amigo e nesta conversa ficou claro que ele não estava me ouvindo e acredite que acho incrível poder analisar o comportamento das pessoas, principalmente das mais próximas de mim que arrisco em no meio do diálogo acrescentar uma palavra “sem nenhum sentido” e a pessoa responde: “sim, claro” e começa a falar sem parar e isso me leva a pensar que ela nem estava prestando atenção (rindo alto aqui), tudo o que ela queria era falar sobre ela.
Sim, o mundo mudou imensamente “ou” sempre foi assim e eu era um iludido acreditando que todos prestavam mais atenção? Agora quando eu olho terapeuticamente para estes acontecimentos logo penso que isso se dá ao facto das pessoas estarem com a mente muito acelerada e se ler até o final vai compreender o que quero dizer com tudo isso.
Houve um tempo em que eu trabalhava muito, lia demasiado e estava em todas as palestras que podia. Tinha sede de aprender e não é que já não tenha mais, porém depois de anos mergulhado no desenvolvimento pessoal, comecei a sentir uma necessidade gigante de desacelerar a minha mente… Isso nunca significou parar, ok? Porém desacelerar, fazer mais devagar, com calma e colocando mais atenção na minha vida. Sinceramente no início entrei em uma espécie de sofrimento (agonia talvez), até aprender a estar comigo mesmo e recomendo a você que aprenda a se ouvir.
Quando comecei a meditar, lembro de falar sobre isso e alguém me perguntar: “como é a sensação de levar isso a sério?” E eu responder: É estranho, pois descobri que me ouvir é dolorido, pois o silêncio é muito barulhento e isso foi logo no início, até conseguir desacelerar e o silêncio se fez necessário e até hoje se faz presente todas as vezes que fecho meus olhos!
Existem muitas maneiras de “ouvirmos” e acredito que devemos treinar todas elas, começando por ouvir a nossa mente e se estiver confuso “aí dentro”, precisa encontrar meios de desacelerar e garanto que a meditação é uma delas, depois ouvir o seu corpo, ele fala tanto, às vezes fala altooooo, quando grita dentro de uma dor, de um momento de stress, na falta de ar e em um profundo cansaço…. Ouvir!
Lembro de estar em uma palestra no Funchal sobre ansiedade e dizer que é necessária uma certa habilidade para ouvir e alguém da plateia rir e discordar e respeito sempre as opiniões, mas se analisar com atenção tudo nesta vida pode ser feito por fazer, de qualquer forma e também pode ser feito de maneira habilidosa, com atenção, com cuidado… Quando ouço porque ouço, entendo como vem, agora quando ouço de maneira habilidosa…. Ah…. aqui eu compreendo as palavras que vêm, que surgem, que nascem e elas dançam até mim e neste movimento quase que poético, eu as interpreto… (Nossa agora até eu me amei) rsss.
Ao longo dos anos treinei os meus ouvidos para ouvir, pois como terapeuta é importante compreender o que o cliente diz, como ele diz e o que ele não diz e cada detalhe se torna de extrema importância, pois meus clientes estão a todo tempo me vendendo as suas dores emocionais e na maioria das vezes como eles acham que é nunca é exatamente como estão me vendendo e como sei disso? Porque ouço com atenção o que dizem e este “ouvir” vai além de palavras, ele envolve a vibração da voz, a maneira e para onde a pessoa está direcionando as palavras.
Às vezes, por exemplo, eu ouço as pessoas falando quase que gaguejando, às vezes com voz trémula, baixinha, aumentando em determinados assuntos e não, eu não quero te transformar em uma pessoa que deva compreender todos os detalhes de ouvir! Quero é ajudá-lo a compreender a importância de ouvir o que chega até você e por favor não ignore esta informação, pois muitas relações por exemplo possuem problemas por falta de uma boa comunicação e isso implica em dois fatores, saber falar e saber ouvir e acredite que é simples como isso.
Ouça com atenção, ouça até ao fim, aprenda a entender que cada um tem o seu tempo e precisa de transmitir a mensagem de uma maneira. Por favor ouça, absorva, ou como se diz: Dê ouvidos ao que te falam…. Muitos adolescentes que atendo hoje reclamam que não foram ouvidos por seus pais em alguma altura de suas vidas e acredito que isso seja mesmo verdade. Os pais (nem todos), então sempre dizendo “tatatatatatá!!!!! Já entendi, depois eu vejo, depois falamos, agora não posso, agora não dá…” e não percebem que na verdade não ouvir o que o filho tem para dizer é a mesma coisa de dizer: “Eu não me importo!” E pode contar a historinha que desejar, que no fundo é esta a maioria das interpretações que “o inconsciente” daquela criança vai absorver.
Ouça o que digo aqui! Aprenda a ouvir! Treine os seus ouvidos,
Até breve,