“Ele se veste todo de preto, sobe no palco, estala os dedos e todos dormem e obedecem ao seu comando e depois alguém diz que ele tem poderes mentais e chama isso de hipnose, mas na verdade é apenas mais um espetáculo com os seus truques”
Começo este artigo dizendo que eu respeito os profissionais que fazem shows, aqueles que fazem apenas shows de hipnose circense e os que misturam hipnose circense com ilusionismo ou mágicas, porém, houve momentos em que até fiz duras críticas a estes espetáculos, pois quando uma pessoa leiga o assiste acredita em duas coisas:
1º Que aquela pessoa lá na frente tem algum tipo de dom, de poder sobrenatural.
2º Que todos os que se submetem a serem “hipnotizados” ficam sob o comando de quem o hipnotizou e fazem tudo o que ele (manda).
Hoje quero desconstruir este mito e falar um pouco sobre a hipnose terapêutica, aquela que ajuda pessoas a encontrarem respostas para as suas feridas emocionais, aquela que eu pratico todos os dias há quase 20 anos.
Primeiro quero explicar que a hipnose circense ou hipnose de palco teve uma grande influência no mundo, pois graças a este tipo de espetáculo, de exibições em filmes é que a ideia da hipnose se propagou, pelo menos no Brasil vemos isso com muita clareza. Porém, na minha opinião, com o tempo a hipnose começou a ter a visão de poder, de comando, de controlo e até hoje muitas pessoas temem a técnica e às vezes até que a aplicam.
Sendo que tudo ali é entretenimento e quando o cara que está lá na frente é bom, ele comanda o “seu” show escolhendo as pessoas certas para subir no palco e sabe levar a conversa para um tipo de “indução”, influenciando a pessoa a seguir os seus passos, enquanto o público em baixo se delicia com tal “poder”. E se eu tivesse que concordar com este “poder” diria sem medo de errar que o poder dele é o de persuasão, mas as pessoas que lá estão (colaborando) com os espetáculo estão se divertindo tanto ou mais que as que assistem, mas isso não significa que estão dormindo ou em transe…ahhh, depende do que significa transe para você!
Enfim, não vejo nenhum mal nisso, contudo, não podemos dizer que aquilo e apenas aquilo é hipnose! Pode ser uma forma de a fazer de maneira divertida, como se fosse um teatro bem montado e sabemos que a pessoa certa, o ambiente bem desenhado, a música de fundo fazem “o” momento para aquilo acontecer.
Eu não sei você, mas eu vou ao cinema quando vejo um belo trailer do filme e o que me chama à atenção é a música, as imagens e a história. Na hipnose de palco normalmente temos uma espécie de trailer, a apresentação, a música, o cenário, as brincadeiras e a maneira de envolver o público.
Bom, mas a hipnose que eu faço todos os dias não tem nada a ver com poder, luzes ou música alta, ela é mais que isso e sei que centenas ou até milhares de profissionais no mundo enxergam de maneira diferente esta poderosa ferramenta terapêutica, então vou dizer como (EU) enxergo, ok?!
Quase duas décadas pesquisando e praticando hipnose me fizeram enxergar que esta é, sem nenhuma dúvida, uma poderosa ferramenta terapêutica e a sua maior função é ajudar pessoas que estão em sofrimento a se encontrarem, é tirar a pessoa da vida automática e ajudá-la a ficar consciente e principalmente despertar nela recursos internos.
“Nossa! Eric, é uma ferramenta mágica?” Não! Não é uma ferramenta mágica, mas é um “instrumento” que ajuda a pessoa a fazer a magia e pretendo explicar aqui minuciosamente para que compreenda o que é a hipnose terapêutica (na minha visão).
Quando uma pessoa me procura, faço o que chamo de avaliação que pode ser feita presencialmente ou online. Nesta avaliação a pessoa me conta o que ela “acha” que está acontecendo, me descreve a sua dor emocional e eu através de perguntas poderosas ou de pequenos testes vou conduzindo a entrevista para compreender aquilo que está acontecendo com ela.
A minha experiência diz que na maioria dos casos as pessoas, relatam aquilo que enxergam, normalmente falam dos sintomas e eu sempre busco compreender o caminho, pois quero entender o que está por trás daquele sintoma para encontrarmos a causa.
Uma avaliação destas dura cerca de 1hora, 1 hora e 30 minutos, então ali é mesmo para compreender a queixa, parte do processo e depois disso proponho algumas sessões para irmos mais fundo e pesquisarmos o que aflige verdadeiramente aquela pessoa.
No meu consultório tenho uma poltrona bem confortável, eu me sento ao lado desta pessoa, ligo o meu Ipad que possui centenas de músicas previamente selecionadas para ajudar a pessoa a relaxar. Eu inicio sempre com um relaxamento e a primeira sessão é sempre para que aquela pessoa se acostume com o ambiente, com a música, com a minha voz e principalmente com a minha condução…. Pois vou guiando-a para um lugar diferente, vou induzindo-a a relaxar e a estar mais consciente.
Sei que muitas pessoas acham que faço as pessoas a dormirem, mas é o contrário, tudo o que quero é que a pessoa tome consciência do seu corpo, dos seus pensamentos, da sua respiração e vá se descobrindo e este processo é mesmo interessante, pois aprendemos a nos deixar de lado e neste processo voltamos a nos descobrimos, a nos conhecermos e acho isso mesmo mágico.
Nas demais sessões a minha intenção é que a pessoa relaxe ao ponto de poder ir lá no momento que a situação foi construída, para vermos aquilo por ângulos diferentes, para entendermos se aquilo foi exatamente como ela pensa que aconteceu, se foi apenas uma impressão “OU” se foi apenas um facto que se acumulou com outras memórias e com histórias de outras pessoas e aquilo tudo junto construiu uma falsa memória.
Normalmente precisamos de várias sessões para conhecer melhor a causa ou para “regredirmos” idade por idade e descobrimos o que está acontecendo e garanto que aqui cada caso é trabalho como único, por mais que alguns se pareçam não possuo um protocolo fixo, gosto de construir a terapia sob medida para que aquela pessoa tenha uma atenção especial.
Dentro deste trabalho existem outros milhares de trabalhos que podem ser feitos, centenas de linguagens diferentes e caminhos que podem contribuir para um resultado melhor e aqui existem milhares de variantes, pois algumas pessoas têm maior facilidade para o transe hipnótico, outras são mais resistentes, mas uma coisa é certa: Todas as pessoas conseguem. Pode ser que umas levem 10 minutos e outras 60, mas quando um cliente está disposto a resolver a sua situação e o profissional sabe como fazer, a magia acontece.
Se neste processo existe algum tipo de poder é sem dúvida o poder que o cliente carrega dentro de si, pois eu como Hipnoterapeuta tenho apenas a experiência de conduzi-lo, mas é a mente dele que o ajuda em seu processo de compreensão e cura, afinal foi a sua mente que criou a situação e apenas esta mesma mente é que pode desconstruir.
Agora a mente construiu aquela dor baseada em alguns acontecimentos, utilizando algumas imagens e sons e em “um estado emocional” e cabe a mim ajudá-lo a resolver as suas questões em (OUTRO) estado emocional, compreende? E neste outro estado, já com alguns recursos internos despertados, ele consegue usar imagens e sons para transformar o que ali um dia foi alojado e neste momento ele desencadeia um processo diferente. Claro que fazendo isso a sensação se torna outra e as suas feridas começam a ser tratadas e o que “antes” doía, vai se tornando cicatriz e todos sabemos que uma cicatriz é apenas uma lembrança de algo que um dia foi…. E não é mais.
Eu amo fazer isso! Às vezes eu acho que colocar uma pessoa em transe e conduzi-la para um lugar seguro é contar um poema e à medida que as minhas palavras vão guiando-a, ela vai enxergando tudo um pouco diferente e juntos vamos brincando com pincéis e tintas das mais diversas cores, vamos desenhando, apagando, desenhando de novo o que já foi e o que será e tudo isso conscientes de quem somos e deste poder que temos de ser e apenas ser.
Estudei com os melhores professores do mundo, bebi água na fonte centenas de vezes, li os melhores livros e ainda hoje digo que os meus melhores professores são aqueles que deitam na minha poltrona, muitas vezes com lágrimas nos olhos e vozes trémulas me contam um pouquinho sobre suas dores emocionais e juntos viajamos rumo ao desconhecido, lá no azul escuro da mente e vamos transformando o que eram apenas imagens ruins e sons assustadores em imagens realistas e claras e sons que horas são apenas ruídos e outras verdadeiras instruções de como resolvemos aquelas questões.
O mesmo cliente que “carrega” com ele o veneno, carrega também o “antídoto”, apenas não consegue enxergar por estar tão mergulhado na sua dor.
Sei que o artigo aqui foi longo e poderia escrever horas sobre tudo isso, pois ainda tenho muito que falar sobre a hipnose, mas penso que aqui já consegue ter uma noção e quem sabe um dia decida fazer uma sessão comigo ou com outro profissional.
Se decidir fazer, desejo um ótimo mergulho! E por falar em hipnose é hora de preparar a sala que logo começo a atender os meus clientes de hoje.
Abraços Hipnóticos,