É interessante como podemos estar muitos felizes e “do nada” ficarmos tristes ou estarmos em um dia cansativo, quase que utilizando as nossas últimas gotas de energia e numa fração de segundos nos animarmos e ganharmos uma carga extra de energia e termos momentos intensos.
Já atendi pessoas que tinham tudo para serem muito felizes e “do nada” se tornavam escravos das suas emoções e não conseguiam avançar e acredito que tudo isso está diretamente ligado às nossas múltiplas versões! “Eu e eu mesmo e as minhas versões”, nasceu de um trabalho que tive com um cliente que durou cerca de 10 meses, no qual o objetivo era estabilizar um cliente que tinha como queixa principal as suas constantes “caídas” na vida.
Ele dizia que sabia o que fazer, muitas vezes se mantinha no caminho correto, porém não sabia explicar porque “algo” tomava conta dele e quando via, estava mais uma vez desestimulado, desanimado e mergulhado em uma profunda tristeza. Segundo este cliente, ele já tinha ido a médicos e alguns diziam que ele sofria de transtorno bipolar, outros diziam que faltava-lhe traçar metas e aumentar a sua disciplina. Já eu não achava nada, apenas queria compreender melhor este universo em que ele vivia.
Sempre tive a ideia de que dentro de nós habitam várias versões diferentes! Nosso lado criança, nosso lado sonhador, a versão de nossos medos e que o equilíbrio destas versões é o que nos faz viver bem, porém quando por qualquer motivo não cuidados de uma ou outra versão, quando não mantemos o “alinhamento”, logo nos vemos mergulhados em dúvidas, em altos e baixos e às vezes penso que a maioria das pessoas vivem assim. (Só penso).
O facto é que eu também já experimentei viver este desalinhamento todo e nos dias atuais nem poderia dizer que me sinto completamente alinhado! Não mesmo. Porém sei exatamente onde estão os meus desalinhamentos e venho dia após dia trabalhando para que eles se ajustem, se alinhem e eu possa a cada dia viver melhor comigo mesmo (em primeiro lugar) e com as pessoas que amo e com o mundo.
Interessante que ao longo da nossa jornada vamos aprendendo pequenos movimentos que causam grande impacto em nossa vida e estar consciente pra mim é um destes pequenos movimentos. Depois que iniciei este trabalho comigo em busca de estar mais consciente, percebi o quanto cuido melhor de mim ou como eu olho para as minhas sombras com mais atenção e carinho e sinto que estou no caminho certo. Pode até ser que demore para alcançar tudo o que pretendo, porém sinto sem medo de errar que o caminho é estar consciente.
Uma aluna me disse uma vez que estava utilizando as minhas dicas em sua vida há mais de 6 meses e claro que fico feliz com tal notícia, porém ela afirmava que estar consciente era muitas vezes doloroso e aquele assunto me interessou. Depois de uma longa conversa compreendi e concordo com ela. Ver com as lentes certas talvez traga mesmo um pouco de dor. Enxergar o que acontece sem utilizar os olhos do Ego, da vaidade, ver sem “manipular” a mente para ver aquilo que desejamos é realmente uma tarefa que exige alguma disciplina.
Muitas pessoas preferem viver com as suas várias versões desalinhadas, entre altos e baixos do que prestar atenção na realidade e acredite que viver conscientemente pode sim trazer algum sofrimento no início, pois está enxergando o mundo de maneira diferente. Mas se for um pouco persistente verá que logo este “sofrimento” desaparecerá e sabe porquê? Porque ele também não é real. Ele faz parte apenas de um processo que está instalado dentro de você, que muitas vezes é guiado pelas suas crenças e está ali programado para ajudá-lo a preencher partes suas e quando estas partes não são preenchidas, ele vem e machuca para lembrar que deve continuar a preencher.
Contudo, o que me intriga é que estas partes nunca são preenchidas de verdade. Vamos alimentando-as e alimentando-as e não ad preenchemos e sabe porque que não? Pois não são reais. Não são conscientes, são apenas partes famintas que precisam ser alimentadas e gosto de dizer que são pequenos monstros que habitam dentro de nós e que foram criados por nós mesmos.
Preste mais atenção em você, no que acontece ao seu redor, na sua vida e pergunte-se se precisa mesmo de tudo isso? Quando for fazer algo, pergunte-se o porquê daquilo ou se realmente aquela sua ação vai te levar a qual resultado?
Atenção que não estou dizendo para não fazer mais nada e nem comprar nada e viver isolado do mundo. Muito pelo contrário, estou dizendo que existe um mundo de possibilidades e passamos a maior parte do tempo buscando algo longe, distante e se prestar atenção não estamos em busca do resultado final, mas de tudo o que acontece até o alcançarmos. São as sensações que temos, os desafios, os momentos, o prazer em fazer, a busca pelo reconhecimento e uma série de sensações, emoções e ilusões.
Veja isso – Uma pessoa trabalha muito, junta dinheiro e luta com toda a sua garra e quando lhe perguntamos porque é que ela quer tanto ou porque é que ela precisa abrir mão de tantas coisas para conquistar e ela diz que quer ter uma vida melhor e se entrevistar algumas pessoas que possuem este pensamento (Eu já o fiz), elas querem uma vida tranquila, ir a praia, comer melhor, ter uma vida mais saudável e algumas querem até meditar todas as manhãs.
Aí penso… Peraí, entendo o facto dela querer ganhar um pouco mais, porém se analisarmos com cuidado esta pessoa já poderia meditar todas as manhãs, ela poderia mudar a sua alimentação e ter uma vida mais saudável e se formos mais fundo percebemos que esta pessoa também pode “aproveitar” um pouco mais da vida, ir mais vezes à praia, estar mais vezes com os amigos.
Eu vivi 3 anos no Funchal e sabe quantas vezes eu fui à praia para tomar sol, entrar na água e usufruir daquele paraíso? (Zero vezes). Fui inúmeras vezes almoçar à beira-mar e caminhar de manhã, mas aproveitar o sol? Zero vezes! E tem turistas que pagam uma verdadeira fortuna para ali estar. Engraçado, né? E onde estava eu? Trabalhando, atendendo, construindo uma empresa, expandindo para que um dia eu tenha a tranquilidade que eu já tenho à minha disposição? Rsssss.
Quanto mais consciente eu fico, mais momentos felizes eu tenho.
Nesta fase da minha vida venho trabalhando cada vez menos e me dedicando a cuidar de mim, a estar mais comigo e garanto a você que isso tem me feito um bem enorme e nem imagina o quanto! Me sinto super mega no caminho certo, pois continuo a trabalhar para o crescimento da minha empresa, continuo a me dedicar, mas nem de perto quero entrar em um ciclo vicioso que estava me levando ao esgotamento físico e mental.
Hoje compreendo que eu, eu mesmo e todas as minhas versões se equilibram quando eu respiro fundo e olho com calma para dentro de mim e sem presa, sem ansiedade, sem medos dou um passo de cada vez em direção a tudo o que quero, porém olhando, sentindo e aproveitando cada um destes passos. Por falar nisso, eu fico por aqui, pois agora vou meditar 30 minutos e depois atender, pois hoje é dia de trabalhar aqui em Lisboa.