Um problema de conexão entre a área responsável pela memória e a área que processa fatos positivos parece estar na raiz do problema
A depressão atinge algo entre 15% e 20% da população mundial, mas seu diagnóstico, como o de muitas outras doenças psíquicas, sofre de um grande estigma social. Longe de ser um simples estado de humor, a depressão é causada por uma complicada combinação de fatores biológicos e psicológicos que estão sendo lentamente revelados pela ciência.
Em busca de uma região específica do cérebro a que pudesse ser atribuída a doença, uma equipe de pesquisadores de várias universidades do mundo analisou com máquinas de ressonância magnética o cérebro de 909 chineses, 421 dos quais eram depressivos diagnosticados — os restantes, saudáveis, serviram de parâmetro. Os resultados foram publicados no periódico Brain, da editora de Oxford, na Inglaterra.
As análises acusaram alterações na atividade de duas regiões do cérebro dos doentes: o córtex órbito-frontal (OFC) medial e o lateral. Não é uma coincidência. O OFC medial é responsável, entre outras coisas, pelo tipo de alegria que sentimos quando algo bom, como ganhar um presente, acontece. O OFC lateral, por sua vez, processa nossas reações a eventos negativos.
Os dois OFCs estão conectados ao hipocampo, a sede de nossa memória. A lógica, agora, é simples: se o OFC “do bem” estiver com as conexões em dia, você irá lembrar de fatos positivos com muita facilidade. Em depressivos, ao que tudo indica, o oposto acontece. O OFC “do mal” toma conta e faz as memórias negativas predominarem no cérebro.
Os cientistas também compararam o cérebro de depressivos que já estavam tomando remédios com os que ainda não haviam sido medicados, e descobriram que os fármacos ajudam porque atuam enfraquecendo as conexões do OFC lateral com a memória — ou seja, contendo parte da inundação de sentimentos ruins.
Mapear a origem exata da depressão no corpo é um passo inestimável para melhorar a vida de quem sofre do problema. Hoje, o tratamento é um tiro no escuro, e cerca de 50% das prescrições de remédios não acertam o alvo de primeira. Um “enviado especial” à região certa do cérebro poderia resolver o problema muito mais rápido — e, de quebra, desconstruir a ideia de que a doença é um mero capricho sentimental.